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Foto do escritorSérgio Rodrigues

Investir não é só sobre ganhar dinheiro!

Quando começas a pesquisar e a organizar as tuas ideias sobre investimentos é natural que o faças com uma motivação essencial: ganhar mais dinheiro! Estabeleces o teu plano, fazes o esforço de todos os meses colocar algum dinheiro investido nesse plano e, a pouco e pouco, começas a acumular capital que gera, por si só, cada vez mais capital. Mas será que esse deve ser o teu único foco? Ganhar dinheiro por si só não te parece algo redutor? Eu acho que sim e este artigo tem como objetivo partilhar contigo as minhas ideias sobre o assunto.


Investir não é só sobre ganhar dinheiro!

A tão falada "independência financeira" acontece quando tens dinheiro ou rendimentos suficientes para que possas fazer o que quiseres, seja lá isso o que for. O facto de seres financeiramente independente não quer dizer que tenhas de te reformar imediatamente e passar o resto da tua vida a beber Mojitos numa praia mexicana. O seres financeiramente independente apenas te dá a hipótese de o fazeres se for isso o que queres. A palavra chave é "hipótese".


Ao não dependeres das tuas 40 (ou mais) horas semanais de trabalho, podes, simplesmente, escolher o que queres fazer com o teu tempo e, consecutivamente, com o teu dinheiro. Outro fator interessante é que, de forma habitual, quem tem mais dinheiro e mais tempo (motivado pelo dinheiro que já têm) dedicam uma parte considerável do seu tempo a mudar o mundo para melhor, através de inúmeros projetos. Neste artigo da Forbes, consegues ver vários exemplos disto que digo como, por exemplo, donativos no total de 40 mil milhões de dólares de Warren Buffett, ou os 15 mil milhões doados por George Soros. Estas pessoas podiam ter ficado com estes milhões de dólares na sua fortuna? Claro que sim, mas optaram por não o fazer.


Um pequeno aparte: eu não sou inocente e sei que uma parte destes donativos são, por vezes, feitos, como uma forma de obter algum tipo de benefício fiscal nos seus países de origem. Ainda assim, se Warren Buffet, por exemplo, tivesse aplicado estes 40 mil milhões na sua estratégia de investimento, os ganhos seriam seguramente muito superiores a algum eventual benefício fiscal que tenha obtido, pelo que a minha ideia e opinião se mantêm.


Pensa nas coisas que gostas e com as quais concordas no mundo, seja lá o que for. Pensa naquilo que te parece ser a "coisa certa a fazer", a marca que queres deixar no mundo. Podes estar longe das fortunas das pessoas que falei acima mas o que te impede de começar agora mesmo com o valor que tens? O que te impede de começar ainda hoje a fazer a diferença no mundo mesmo que isso signifique ganhares menos dinheiro? A tua estratégia de investimento reflete a pessoa que és e aquilo em que acreditas?


É fácil olhar para investimentos (sejam eles quais forem) e ver números apenas. Olhas para os rácios de uma empresa ou para a ficha de um ETF e tomas a tua decisão baseada nisso. E se olhares efetivamente para onde estás a investir? Lembra-te que se é o teu dinheiro que lá está, tu tens propriedade sobre uma parte daquilo onde investiste. Identificas-te com os teus investimentos? Se alguém olhar para a tua carteira de investimentos, a ideia que forma sobre ti corresponde à realidade?


Vamos a um exemplo concreto do que estou a dizer, utilizando algo muito em voga e sobre o qual todos temos uma opinião: o setor da energia. De que lado estás tu nesta opinião? Do lado que defende que o caminho são as energias verdes como a eólica, hídrica ou solar? Achas que estas fontes são uma ameaça para a vida animal, por exemplo, e soluções como a nuclear ou, mais disruptiva, o hidrogénio serão o futuro? Ou, por outro lado, entendes que ainda há uma quantidade muito considerável de pessoas no mundo sem acesso a eletricidade e que o caminho para melhorar isso passa pelas mais tradicionais, e baratas, soluções fósseis? Aposto que tens a tua própria opinião e quero-te dizer que nenhuma está errada. Como em tudo, qualquer solução tem vantagens e desvantagens sobre as outras, por isso qualquer uma delas é válida.


Vamos supor, por exemplo, que defendes as energias verdes. Então qual o motivo para estares a investir em empresas ou fundos de empresas petrolíferas? Entendes onde quero chegar? Que mensagem estás a passar para o mundo?


És mesmo capaz de dizer "Eu acredito que as energias renováveis são o futuro, mas tenho o meu dinheiro investido em petrolíferas porque me dão mais dinheiro".?


Podemos ainda falar de um outro exemplo que, infelizmente, vejo muito regularmente: os investidores imobiliários. Fui senhorio entre 2020 e 2024, e durante essa fase, segui diversos grupos de Facebook que juntam senhorios e algumas coisas que li por lá deixaram-me, por vezes, chocado mas, de certa forma, explicam o motivo pelo qual o mercado de arrendamento em Portugal tem ainda tanto para aprender, amadurecer e se tornar realmente atrativo tanto para senhorios como inquilinos.


A esmagadora maioria das pessoas que decide investir em imobiliário para arrendamento tem uma coisa em mente: lucro! Tudo o resto é irrelevante e, a meu ver, isto resulta num mercado com três características essenciais:

  • Sobrevalorizado - A escolha de inquilinos é feita, quase exclusivamente, em função do valor. Quem paga mais, fica com as casas. A lei da oferta e procura funciona e o preço só tem tendência para subir.

  • Volátil - Como a escolha é feita com base em quem paga mais, sempre que existe alguém disponível para pagar um valor superior, troca-se de inquilino.

  • Impessoal - O investidor olha para o inquilino como um número e há uma desconsideração do mesmo enquanto pessoa.

Para que não aches que isto é "conversa da treta", deixo-te aqui um exemplo de algo que me aconteceu e como lidei com isso.


Coloquei uma casa disponível para arrendar em Fevereiro de 2020 e tive duas propostas:

  1. Um casal perto dos 45 anos de idade, ambos funcionários públicos efetivos, com um filho e ficariam com uma taxa de esforço muito confortável, perto dos 25%, e que se propuseram 6 meses de renda adiantada;

  2. Uma senhora, com 30 anos, funcionária numa empresa privada, recentemente separada e com um filho, que ficaria com uma taxa de esforço perto dos 40%, e que propôs 2 meses de renda adiantada;

Qual das opções escolhi? A segunda! Mesmo dando menores garantias em termos financeiros, a parte mais emocional e subjetiva do que conheci de ambos os casos veio ao de cima, e ajudou à decisão.


O contrato iniciou em Fevereiro e, pouco depois, como sabemos, o COVID chegou em força a Portugal. Chegamos a Agosto e esta inquilina envia-me um email a dizer que tinha sofrido um corte considerável nos seus rendimentos e que teria de sair da casa porque não conseguia continuar a pagar a renda tal como estava. Então o que fizemos? Falámos abertamente sobre o assunto e decidimos baixar a renda em um terço até ao final do ano e depois voltaríamos a avaliar. Chegamos a Dezembro e a situação dela estava melhor mas, ainda assim, longe do que estava no início desse mesmo ano. A renda reduzida era confortável para o seu orçamento mas a renda original continuava fora das suas contas. Então acordamos continuar com a renda dos últimos meses como um novo valor normal e a única coisa que alterámos foi o prolongamento do prazo do contrato, permitindo-me assim uma menor taxa de IRS, sendo algo que para ela não tinha nenhum impacto porque, claramente, a ideia seria continuar naquela casa durante os próximos anos.


Naqueles dois momentos do tempo (Agosto e Dezembro 2020) podia ter aceite a sugestão da inquilina de sair da casa e procurar outras pessoas que conseguissem suportar o valor original da renda, 33% superior e não o fiz. Decidi prescindir nessa fatia considerável do meu retorno financeiro para trazer estabilidade financeira e emocional a esta pessoa e ao seu filho. Decidi fazer aquilo que para mim é correto, visto que também ela fez sempre o que era o correto. Quando se olha para pessoas pelo que elas são e fazem e não só pelo dinheiro que trazem, o mundo é um lugar diferente e melhor.


Espero que este meu testemunho te tenha inspirado a olhar para os teus investimentos de forma diferente. É verdade que eles devem ser uma ferramenta para te gerar rendimento e riqueza mas tenta ir além disso. Tenta ver os investimentos como muito mais do que números e olha para eles como uma forma de veres aquilo que tu próprio és!

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