Já não preciso de ganhar muito mais
- Sérgio Rodrigues
- há 37 minutos
- 6 min de leitura
Este artigo está a ser escrito a 100% por mim, sem qualquer ajuda do ChatGPT ou qualquer outra ferramenta de inteligência artificial. Nada contra, muito pelo contrário, as ferramentas deste género, até porque sou utilizar diário delas e são extremamente relevantes no meu dia-a-dia, pessoal e profissional.
No entanto, neste artigo desafiei-me a escrever tudo integralmente, o que significa que o SEO não vai estar incrível, que a organização dos headers, os Call to Action e essas coisas todas não estarão no seu esplendor e está tudo bem. Assumo esse risco, pela liberdade e vontade de escrever o que me apetece, como me apetece, independentemente das "regras" mais habituais.
Adiante...
O título deste artigo traz um peso grande e pode trazer alguma interpretação mais difícil à primeira vista, o que torna ainda mais importante que seja eu próprio a escrever tudo e a deixar a minha cabeça simplesmente descarregar tudo para aqui à medida que vai surgindo. Vamos começar?

Vamos começar pelo princípio. Sou um priviligiado. Em várias coisas, é verdade, mas indo ao tema deste artigo, sou um priviligiado por amar o meu trabalho. Claro...não são só coisas boas, lindas e maravilhosas mas na sua esmagadora maioria adoro todas as atividades que estão relacionadas com o meu trabalho. Gosto principalmente da parte da formação ou das apresentações em eventos. A parte de comunicar é-me particularmente próxima e dá-me um gosto particular.
No entanto, por muito que goste daquilo que faça, não deixa de ser trabalho. Na minha opinião, trabalho nunca será lazer. Aquela ideia de "arranja um trabalho que gostes e não terás de trabalhar um dia na tua vida" é algo que, em mim, não pega. Acho que é mais "arranja um trabalho que gostes, e os dias que trabalhares serás muito mais feliz". Por muito que eu goste de trabalhar, nunca me trará tanto prazer como estar com a minha família, ir ao cinema com a minha mulher ou almoçar com os meus amigos. Não é a mesma coisa. Para mim, na posição de priviliégio em que estou, simplesmente faz com que os Domingos à tarde não sejam momentos de crise de ansiedade, como já foram no passado, por pensar que segunda-feira vou regressar ao trabalho. Faz com que encare dias longos de 12 ou 14 horas de trabalho de uma forma muito mais tranquila e que consiga que o cansaço se limite ao físico, já que esse é inevitável, deixando o psicológico, muito mais importante, praticamente inalterado. Isso é maravilhoso, claro.
Ora, sendo um trabalho, tem um objetivo, entre vários, claro, que é pagar as minhas contas, o que quer dizer que o trabalho tem de gerar um rendimento para que isto seja uma realidade e me permita viver e manter-me nesta minha missão também.
Eu refiro-me a, mim próprio, como trabalhador por conta própria ou freelancer. Há quem "goste" (aspas propositadas) de se referirem como "tenho um negócio". Sim, não deixa de ser verdade, mas confesso que não gosto propriamente da expressão. Podem ser crenças minhas ainda por descobrir, mas não é uma expressão que use, pelo menos de forma regular.
Quando se fala de negócios, o mais habitual é falar da ideia de crescer o negócio, alavancar, seja lá a expressão que se queira utilizar. Há sempre esta noção implícita que todos temos de crescer e se não cresces, então tens um problema. Que se não estás a fazer 10.000€ por mês então é porque és pouco ambicioso. E é aqui que, para mim, a grande separação ocorre entre quem é freelancer e quem tem um negócio.
Há uns meses partilhei no meu LinkedIn uma publicação que dizia qualquer coisa como "eu não quero criar um grande negócio". Mantenho integralmente essa posição. Eu não quero contratar pessoas, não tenho o sonho de ter um escritório com máquinas de vending e de ter o meu nome na parede de um sítio qualquer. Não é esse o plano. Neste momento, sou trabalhador por conta própria, ou independente, como queiras chamar e se abrir empresa será apenas por uma questão fiscal e é apenas se for realmente relevante e ético, muito além de ser puramente legal. Digo isto porque há muitas coisas na fiscalidade que são legais mas nas quais, pessoalmente, não me revejo, logo recuso-me a utilizar esses "benefícios". Lá está... devo ser pouco ambicioso.
Juntamos isto tudo e chegamos à conclusão que a "pressão" que é colocada nos negócios para crescerem porque, lá está, tudo está a crescer à sua volta, é algo que eu não tenho. Naturalmente, a partir do momento em que contrato alguém e tenho uma pessoa cujo ordenado depende do meu trabalho, eu sou, de certa forma, obrigado a ganhar mais para que essa pessoa também ganhe. E é legítimo que assim seja, claro. Se assim não fosse, então não teríamos as empresas incríveis e transformadoras que o mundo tem.
Esse não é o caminho para mim. Não é algo que ambicione. Passei cerca de 20 anos dentro do mundo corporativo e vi as suas entranhas em diferentes níveis e perspetivas. O meu caminho não passa por aí.
Voltamos a mim, então. Se não tenho esta pressão de pagar ordenados a outros, então só tenho a pressão de pagar o meu próprio ordenado, que é uma pressão com a qual lido bastante melhor, confesso.
E sobre este ponto, agora ligando também ao título do artigo, quero contar-te duas histórias rápidas.
A primeira aconteceu no Investor Talks 2025, o evento onde fui orador e que juntou praticamente 1.000 pessoas no Portimão Arena. Numa das muitas interações que tive ao longo dos dias, estava a falar com uma pessoa que conheço bem e com quem trabalho em alguns projetos, e ele perguntou-me quais eram os planos para o futuro, o que estava a planear lançar a seguir, previsão de crescimento, etc. A isto respondi-lhe... "Sabes, o que ganhei o ano passado e o que, provavelmente, vou ganhar este ano, é sensivelmente o mesmo e a verdade é que não preciso de mais".
A segunda aconteceu mais recentemente, numa formação que dei e que fizeram uma questão que penso que nunca tinha surgido. Perguntaram: "o que é um bom ordenado?". Naturalmente, que esta é uma questão que não tem uma resposta direta, pelo que eu partilhei uma visão alternativa e disse "para mim, um bom ordenado líquido é o dobro das nossas despesas essenciais". Isto baseia-se na lógica do orçamento 50/30/20.
E juntando isto tudo, é por isso que sinto mesmo que já não preciso de ganhar muito mais. Neste momento, de forma média, a minha taxa de necessidades, ou despesas essenciais, ronda os 30% dos meus rendimentos, ou seja, o meu "ordenado líquido", é cerca de 3 vezes as despesas essenciais, o que me permite ter uma vida muito confortável, que me permite estar totalmente realizado, poupar e investir, ter tempo para a minha família e tudo o demais.
É legítimo pensar: "ok... mas se agora o ordenado dobrasse era melhor, certo?". Sim, claro. E vou ser honesto contigo: como é óbvio havendo essa oportunidade, é provável que a aceite, mas lá está, é provável, e não certo...porquê? Porque não preciso efetivamente desse valor a mais. Se para o ter na conta, tiver de fazer algo que vá contra aquilo que é fundamental para mim, então está fora de questão.
A ideia da Reforma Antecipada é algo que, para mim, não encaixa, pelo simples facto de, lá está, ser um priviligiado e adorar o que faço e, por isso, parar de o fazer o mais rapidamente possível, situação para a qual então iria precisar do tal capital adicional o mais cedo e rápido possível, deixa de fazer sentido e é menos uma pressão que tenho. Sim, a ideia é, daqui a uns anos, ir reduzindo o ritmo, também baseado no facto do meu próprio valor ir subindo. Exemplo e valores aleatórios: imaginaq que hoje para ganhar 5.000€ tenho de fazer 10 sessões de formação de 500€. Se calhar daqui a 10 anos, ganho os mesmos 5.000€ numa única sessão e pronto, está feito. Estamos a ignorar inflação e coisas do género. É só um mero exemplo ultra simplificado para explicar um ponto de vista.
Em resumo... o ano de 2024 foi o meu primeiro ano 100% dedicado a trabalhar por conta própria e estabeleceu a base. A base foi bastante boa e permitiu-me ver que aquele valor me é suficiente, e até com alguma margem, para a vida que estou a viver e que adoro, o que significa que se todos os anos for ajustando à inflação, pelo menos, estamos bem. Isto permite-me viver com tranquilidade, leveza e paz. Naturalmente que o capital que fui acumulando ao longo dos anos anteriores e que hoje está poupado ou investido é fundamental para que me sinta assim, porque sei que estou protegido caso haja algum desafio.
Tudo isto são finanças pessoais, é organização financeira. Uma área que quanto mais trabalho nela, mais me apaixona.


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