Quando se fala de investimentos, é inevitável falarmos de risco, ou seja, da probabilidade de perdermos dinheiro. Uma correta gestão de risco da nossa carteira é, a meu ver, um ponto essencial para uma estratégia de sucesso, mas há uma pergunta que me parece especialmente importante: o risco dos nossos investimentos deve ir mudando ao longo da nossa vida?
O tema da gestão de risco na nossa carteira de investimentos já tinha sido abordado num artigo bastante antigo do blog, mas achei que fazia sentido voltar a trazê-lo, já que é um tema sempre atual e que, por isso, deve estar sempre na nossa cabeça quando pensamos em investir dinheiro.
A forma mais comum de sabermos o nosso perfil de risco prende-se a questionários que as entidades financeiras partilham connosco e que, dependendo da nossa experiência, conhecimento e expectativas, nos colocam um "rótulo" que vai de "conservador" até "agressivo" com vários níveis intermédios. Apesar de ver valor nessa estratégia, se o questionário for feito apenas no momento de abertura de conta e nunca mais for repetido ou atualizado, então rapidamente poderá ficar desatualizado e os produtos tornarem-se desenquadrados ao real perfil.
Conheço muitas pessoas que quando se pergunta qual o seu perfil de risco, respondem logo "conservador" e dizem que para eles "apenas interessam os produtos de capital garantido". Tenho vindo a descobrir um ponto interessante.
A maioria das pessoas diz-se conservadora por desconhecimento.
Isto significa que como não sabem como funciona o mundo dos investimentos, então atribuem a si próprias o título de "conservador", ficando assim presas ao mundo dos depósitos a prazo, certificados de aforro e pouco mais.
Obviamente que se não se entende o investimento, então não devemos colocar lá dinheiro. Essa é daquelas regras essenciais quando se trata destes tópicos. No entanto, se a pessoa não se esforçar por aprender, também nunca vai arriscar e vai continuadamente estar a perder dinheiro para a famosa inflação.
Então que outras formas existem de gerir o risco? Bem, na verdade, inúmeras, mas neste artigo quero partilhar a minha abordagem que se centra num ponto essencial: gerir o risco da nossa carteira de acordo com a nossa idade.
Em primeiro lugar, temos de entender que todos os produtos que temos têm um risco associado e que, tendencialmente, quanto maior o risco, maior a recompensa ou a rentabilidade, neste caso. Uma forma simples de categorizar os produtos por nível de risco, utiliza a escala SRRI (Synthetic Risk Reward Index).
Esta escala vai categorizar os produtos num nível de 1 (risco baixo) a 7 (risco alto) de acordo com a sua volatilidade, ou seja, é entendido que quanto mais variações o preço do ativo tiver, mais arriscado ele é. Enquanto que no nível 1 vamos ter os nossos produtos de capital garantido, por exemplo, no nível 7 teremos a maioria das nossas ações, sejam individuais ou via ETF.
Muitos dos produtos que conhecemos, como os fundos, os PPR ou os ETF mencionam habitualmente qual o seu nível de risco utilizando esta mesma escala. Caso essa informação não esteja disponível, é muito provável que a sua volatilidade conste na informação financeira e a partir daí é simples enquadrar num destes níveis.
Assim, o passo nº 1 é atribuir um nível de risco, de 1 a 7, a todos os produtos que temos em carteira.
O passo seguinte é fazermos uma média ponderada para conseguirmos aferir o nível de risco da nossa carteira. Se for necessário uma ajuda para o cálculo, aqui fica um apoio.
De seguida, vamos então calcular qual será o nosso nível de risco "ideal" (aspas propositadas). Digo ideal porque será de acordo com a nossa idade, partindo do pressuposto que quanto mais velhos somos, menos riscos devemos correr, não só por uma questão de proteção de capital como também pelo facto de o longo prazo, essa componente tão relevante do nosso sucesso financeiro, ser cada vez mais curto à medida que o tempo passa.
Os últimos dados do PORDATA, identificam que a esperança média de vida em Portugal é de 81 anos. Com isso em mente, vamos então usar a fórmula abaixo. No "ano morte" colocamos o ano em que iremos completar 81 anos. Sabemos que é bastante provável que a esperança média de vida continue a aumentar e que muitos de nós ultrapassemos os 81 anos, mas vamos usar a informação que temos atualmente disponível.
Este cálculo vai dar-nos o nosso nível de risco associado à idade que temos. Vou usar o meu caso como exemplo.
Nasci em 1987, o que significa que irei completar 81 anos em 2068, e escrevo este artigo em 2023, por isso o meu resultado será de 3.9. Isto significa então que como estou aproximadamente a meio da minha vida esperada, o meu nível de risco também se aproxima do meio naquela escala de 1 a 7.
O gráfico abaixo mostra o resultado do cálculo aplicado ano a ano desde o nascimento até à, possível, morte e é a forma mais direta de vermos a aplicabilidade desta fórmula.
Vemos então que nos primeiros anos o nível de risco é elevado, motivado pelo facto de a maioria viver em casa dos pais, sem grandes responsabilidades financeiras, ter um longo prazo enorme pela frente e isso faz com que possam correr muitos riscos nos seus investimentos.
Ao passar na fase dos 30 a 40 anos, estamos no nível intermédio de risco, visto que ainda muitos anos pela frente para rentabilizar o dinheiro, mas já teremos de equilibrar isso com, possivelmente, uma casa para pagar, despesas e tudo o resto.
Quando nos começamos a aproximar dos 60, então a nossa preocupação já deve começar a ser preservação de capital, já que não estamos numa fase em que possamos tolerar perdas avultadas que comprometam a nossa vida futura.
Quer isto dizer que, por exemplo, se o meu nível de risco é 4, então só posso ter produtos de nível 4? Claro que não! É sempre uma questão de olhar à média. Na verdade, mesmo na fase mais avançada com o nível de risco 1 ainda é possível ter ações ou outros produtos mais agressivos. Terão é de ser numa quantidade de capital muito reduzida que não nos crie problemas se, por algum motivo, forem perdidos.
Esta é a abordagem que tenho seguido e que me faz sentido. Tem uma razão lógica por trás e ajuda-me a orientar o nível de risco da minha carteira.
Naturalmente que no final de contas a decisão é sempre do investidor, independentemente do que esta fórmula apresenta. O ponto mais importante e inegociável, é que os investimentos sejam sempre feitos de forma informada e consciente.
Todos estes conceitos estão explicados e detalhados no meu livro "Pensar, Poupar, Ganhar". Carrega na imagem abaixo para saber mais:
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